Porque obstetriz, ou, O que você tem a ver com isso?
Entenda a opção pela obstetrícia. E se puder, apóie a causa.
Meu nome é Ana Cristina Duarte. Coordeno no GAMA - Grupo de Apoio à
Maternidade Ativa (www.maternidadeativa.com.br).
Sou obstetriz formada pela USP-EACH.
Quando decidi me dedicar ao atendimento de mães e bebês, já casada, dois
filhos, vida estabilizada, eu poderia ter trilhado qualquer caminho que
quisesse, qualquer carreira. Mas eu esperei por alguns anos, perseguindo
a Profª Dulce Gualda em todos os eventos de Humanização para saber
quando sairia o prometido curso de obstetrícia da USP. No tempo em que
esperei o curso sair, eu poderia já ter completado um curso de
enfermagem! Mais dois semestres e algumas horas de estágio, eu já
poderia ser enfermeira obstetra. Mas não era o meu sonho. Eu não me via
como enfermeira, eu não queria estudar doenças, hospitais, cuidado com
idosos, crianças, UTI, procedimentos, cardiologia, oncologia,
sistematização do processo de cuidar, antes de me dedicar à minha paixão.
Eu queria estudar a mulher, seus processos, a gravidez, seus partos,
seus bebês. Eu queria reinventar o cuidado na gravidez, parto e
pós-parto. Eu queria pensar em como cuidar da mesma mulher desde o
resultado do exame de gravidez, até ela estar amamentando seu bebê. Eu
queria estar com ela desde o início, até o fim do processo. Com a mesma
mulher, na sua família, na sua casa, no seu contexto social, emocional,
afetivo. Eu me via assim, parteira. Eu não me via assim, antes
enfermeira, depois especialista. Questão de identidade pessoal com uma
carreira que já existe internacionalmente e já existiu no Brasil!
Quando o curso saiu para o vestibular de 2005, eu devo ter sido a
primeira a me inscrever! Foram quatro anos de dedicação. Quatro anos
estudando tudo o que se refere à mulher, nesta fase da vida. Tínhamos na
ponta da língua tudo o que era normal e o que era anormal. Normal na
média, normal fora da média, anormal. Exames, diagnósticos, sintomas.
Equipe multidisciplinar, UBS, alto risco, baixo risco. Fisiologia,
anatomia, nutrição, sociologia, psicologia. Mecanismos do parto,
manobras, posições, apresentações, distocias, eutocia. Intervenções,
estatísticas, saúde pública e privada. Filmes de parto entre técnicas de
esterilização. Parto na água entre elaborações de escala.
Sacolejando em trens ou parados na Marginal Tietê ao final de um dia
cansativo, nós sobrevivemos a quatro anos de intenso treinamento focado
na assistência humanizada, segura e baseada em evidências no ciclo da
gravidez, parto e puerpério.
Foram quatro intensos e difíceis semestres de estágio, porque ainda não
existem campos de estágio onde a mulher seja vista e tratada como nós,
alunos, havíamos aprendido na escola. Mas ainda assim pudemos atender
muitos partos, consultas de pré natal, consultas de pós parto, em
ambulatório e domicílio. Massagem nas costas e partograma, palavras de
incentivo, acocorar no banheiro, abraçar, controlar a dinâmica e o
gotejamento (desse não pudemos escapar). Proteção do períneo,
clampeamento tardio (quando conseguíamos), contato pele-a-pele (quando
transgredíamos).
Tivemos um excelente curso, que certamente poderia ser melhor (tudo pode
ser sempre melhor) e que desde então vem sendo melhorado ano a ano, com
novas disciplinas, reestruturação da grade, adaptação a exigências.
Formamo-nos obstetrizes competentes e sedentos por trabalhar na
assistência. Não queremos ser enfermeiros, nem médicos, nem psicólogos.
Queremos trabalhar na assistência à saúde da mulher durante a gravidez,
parto e puerpério. Apenas obstetrizes, como existem em todo o mundo sob
os curiosos nomes de sage-femme, midwife, matrona, partera, hebamme,
ostetrica, obstetrix, llevadora. Não estamos reinventando a roda e não
negamos a importância de todas as outras profissões que existem.
Quero apenas continuar fazendo o que amo: assistência dentro de equipe
multidisciplinar, com parceiros obstetras, psicólogos, enfermeiros,
fisioterapeutas, doulas, educadoras, pediatras e muitos outros. Quero
continuar parceira respeitosa e privilegiada desses maravilhosos médicos
e enfermeiras obstetras que têm nos dado os braços nessa longa jornada
pela melhoria da assistência à saúde no Brasil. Mas não quero ser
enfermeira nem médica. Eu sou obstetriz.
Neste momento o primeiro e único (por enquanto) curso de formação de
obstetrizes do país está sob ameaça. A USP pretende encerrar as vagas
para a carreira já no próximo ano. A justificativa é que o COFEN
(Conselho Federal de Enfermeiros) não nos reconhece como enfermeiros
(que não queremos ser), bem como não mais reconhece a profissão
obstetriz, apesar dela ser mais antiga que a enfermagem obstétrica. A
proposta oficial da USP é "Fundir o curso de obstetrícia com a
enfermagem", ou seja, aumentar um pouco o número de vagas para
Enfermagem no vestibular e extinguir de vez a Obstetrícia.
Esse é o começo do fim. Sem vagas, sem alunos. Sem alunos, sem curso.
Sem curso, sem carreira. Sem carreira, sem obstetrizes. Mesmo as que
existem serão como solitárias andorinhas voando sem um bando. Sem fazer
verão. Sem mudanças no cenário. Continuaremos como era antes, o que não
era nada bom. Para impedir que isso aconteça, é necessária muita pressão
da sociedade e é isso que estamos tentando fazer. Para isso peço sua
ajuda neste momento.
Assinando nossa petição, manifestando nela a sua opinião, vamos
mostrando que o curso não é uma manifestação de 250 alunos e 150
obstetrizes formados. Não estamos falando mais de um vestibular, nem de
alguns formados a procurarem uma nova carreira. Assinando e manifestando
repulsa a essa amputação proposta pela USP, mostramos que o curso e seu
ideário são uma manifestação da sociedade por um mundo melhor, por uma
forma diferente e justa de se gestar, nascer, dar à luz e amamentar seus
filhos, que seja acessível a todas as mulheres. A obstetrícia não diz
respeito a obstetrizes, enfermeiros, médicos, USP, CFM ou COFEN. A
obstetrícia diz respeito à vida de todos e ao futuro dos nossos filhos.
Para assinar nossa petição: clique em
http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/8452
Basta nome e RG, mas você também pode deixar uma mensagem de apoio. Não
precisa preencher os outros dados.
Assinaturas já recolhidas (7800 na última visita):
http://www.abaixoassinado.org/assinaturas/abaixoassinado/8452/?show=500
Grata pela colaboração! E assine a petição, clicando aqui:
http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/8452
Ana Cristina Duarte
Obstetriz
GAMA
Entenda a opção pela obstetrícia. E se puder, apóie a causa.
Meu nome é Ana Cristina Duarte. Coordeno no GAMA - Grupo de Apoio à
Maternidade Ativa (www.maternidadeativa.com.br).
Sou obstetriz formada pela USP-EACH.
Quando decidi me dedicar ao atendimento de mães e bebês, já casada, dois
filhos, vida estabilizada, eu poderia ter trilhado qualquer caminho que
quisesse, qualquer carreira. Mas eu esperei por alguns anos, perseguindo
a Profª Dulce Gualda em todos os eventos de Humanização para saber
quando sairia o prometido curso de obstetrícia da USP. No tempo em que
esperei o curso sair, eu poderia já ter completado um curso de
enfermagem! Mais dois semestres e algumas horas de estágio, eu já
poderia ser enfermeira obstetra. Mas não era o meu sonho. Eu não me via
como enfermeira, eu não queria estudar doenças, hospitais, cuidado com
idosos, crianças, UTI, procedimentos, cardiologia, oncologia,
sistematização do processo de cuidar, antes de me dedicar à minha paixão.
Eu queria estudar a mulher, seus processos, a gravidez, seus partos,
seus bebês. Eu queria reinventar o cuidado na gravidez, parto e
pós-parto. Eu queria pensar em como cuidar da mesma mulher desde o
resultado do exame de gravidez, até ela estar amamentando seu bebê. Eu
queria estar com ela desde o início, até o fim do processo. Com a mesma
mulher, na sua família, na sua casa, no seu contexto social, emocional,
afetivo. Eu me via assim, parteira. Eu não me via assim, antes
enfermeira, depois especialista. Questão de identidade pessoal com uma
carreira que já existe internacionalmente e já existiu no Brasil!
Quando o curso saiu para o vestibular de 2005, eu devo ter sido a
primeira a me inscrever! Foram quatro anos de dedicação. Quatro anos
estudando tudo o que se refere à mulher, nesta fase da vida. Tínhamos na
ponta da língua tudo o que era normal e o que era anormal. Normal na
média, normal fora da média, anormal. Exames, diagnósticos, sintomas.
Equipe multidisciplinar, UBS, alto risco, baixo risco. Fisiologia,
anatomia, nutrição, sociologia, psicologia. Mecanismos do parto,
manobras, posições, apresentações, distocias, eutocia. Intervenções,
estatísticas, saúde pública e privada. Filmes de parto entre técnicas de
esterilização. Parto na água entre elaborações de escala.
Sacolejando em trens ou parados na Marginal Tietê ao final de um dia
cansativo, nós sobrevivemos a quatro anos de intenso treinamento focado
na assistência humanizada, segura e baseada em evidências no ciclo da
gravidez, parto e puerpério.
Foram quatro intensos e difíceis semestres de estágio, porque ainda não
existem campos de estágio onde a mulher seja vista e tratada como nós,
alunos, havíamos aprendido na escola. Mas ainda assim pudemos atender
muitos partos, consultas de pré natal, consultas de pós parto, em
ambulatório e domicílio. Massagem nas costas e partograma, palavras de
incentivo, acocorar no banheiro, abraçar, controlar a dinâmica e o
gotejamento (desse não pudemos escapar). Proteção do períneo,
clampeamento tardio (quando conseguíamos), contato pele-a-pele (quando
transgredíamos).
Tivemos um excelente curso, que certamente poderia ser melhor (tudo pode
ser sempre melhor) e que desde então vem sendo melhorado ano a ano, com
novas disciplinas, reestruturação da grade, adaptação a exigências.
Formamo-nos obstetrizes competentes e sedentos por trabalhar na
assistência. Não queremos ser enfermeiros, nem médicos, nem psicólogos.
Queremos trabalhar na assistência à saúde da mulher durante a gravidez,
parto e puerpério. Apenas obstetrizes, como existem em todo o mundo sob
os curiosos nomes de sage-femme, midwife, matrona, partera, hebamme,
ostetrica, obstetrix, llevadora. Não estamos reinventando a roda e não
negamos a importância de todas as outras profissões que existem.
Quero apenas continuar fazendo o que amo: assistência dentro de equipe
multidisciplinar, com parceiros obstetras, psicólogos, enfermeiros,
fisioterapeutas, doulas, educadoras, pediatras e muitos outros. Quero
continuar parceira respeitosa e privilegiada desses maravilhosos médicos
e enfermeiras obstetras que têm nos dado os braços nessa longa jornada
pela melhoria da assistência à saúde no Brasil. Mas não quero ser
enfermeira nem médica. Eu sou obstetriz.
Neste momento o primeiro e único (por enquanto) curso de formação de
obstetrizes do país está sob ameaça. A USP pretende encerrar as vagas
para a carreira já no próximo ano. A justificativa é que o COFEN
(Conselho Federal de Enfermeiros) não nos reconhece como enfermeiros
(que não queremos ser), bem como não mais reconhece a profissão
obstetriz, apesar dela ser mais antiga que a enfermagem obstétrica. A
proposta oficial da USP é "Fundir o curso de obstetrícia com a
enfermagem", ou seja, aumentar um pouco o número de vagas para
Enfermagem no vestibular e extinguir de vez a Obstetrícia.
Esse é o começo do fim. Sem vagas, sem alunos. Sem alunos, sem curso.
Sem curso, sem carreira. Sem carreira, sem obstetrizes. Mesmo as que
existem serão como solitárias andorinhas voando sem um bando. Sem fazer
verão. Sem mudanças no cenário. Continuaremos como era antes, o que não
era nada bom. Para impedir que isso aconteça, é necessária muita pressão
da sociedade e é isso que estamos tentando fazer. Para isso peço sua
ajuda neste momento.
Assinando nossa petição, manifestando nela a sua opinião, vamos
mostrando que o curso não é uma manifestação de 250 alunos e 150
obstetrizes formados. Não estamos falando mais de um vestibular, nem de
alguns formados a procurarem uma nova carreira. Assinando e manifestando
repulsa a essa amputação proposta pela USP, mostramos que o curso e seu
ideário são uma manifestação da sociedade por um mundo melhor, por uma
forma diferente e justa de se gestar, nascer, dar à luz e amamentar seus
filhos, que seja acessível a todas as mulheres. A obstetrícia não diz
respeito a obstetrizes, enfermeiros, médicos, USP, CFM ou COFEN. A
obstetrícia diz respeito à vida de todos e ao futuro dos nossos filhos.
Para assinar nossa petição: clique em
http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/8452
Basta nome e RG, mas você também pode deixar uma mensagem de apoio. Não
precisa preencher os outros dados.
Assinaturas já recolhidas (7800 na última visita):
http://www.abaixoassinado.org/assinaturas/abaixoassinado/8452/?show=500
Grata pela colaboração! E assine a petição, clicando aqui:
http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/8452
Ana Cristina Duarte
Obstetriz
GAMA
Oi, eu assinei a petição. Vi que este post é de quase 2 anos atrás! Como está a situação das obstetrizes hoje? O curso na USP ainda existe? Há outras faculdades que o oferecem também? Obg.
ResponderExcluirOlá, eu sempre choro com partos, até os de novela hehe, Acredito que esse sim seria uma profissão que eu queria ter, realmente não queria estudar tudo (enfermeira) para depois ver os partos, já queria isso, direto ao ponto.
ResponderExcluirVendo a parte que falou tanto dos estudos, esse é o meu medo, passar no vestibular. Gostaria de fazer a prova que terá em novembro desse ano, mas não sei se darei conta, começando agora os estudos. Nunca prestei Fuvest, minha faculdade foi particular, tecnólogo.
Será que consigo me preparar a tempo?
muito obrigada.
PS, como ficarei sabendo da resposta? chega por e-mail tb?