O Brasil Precisa de Obstetrizes

segunda-feira, 21 de março de 2011

Fusão do curso de Obstetrícia da USP significa fim da profissão

Grupo que sugeriu fechamento de 330 das 1.020 vagas da USP Leste, propõe que Obstetrícia passe para Escola de Enfermagem

Cinthia Rodrigues, iG São Paulo
Entre as conclusões do relatório que sugeriu o fechamento de 330 das atuais 1.020 vagas do campus Leste da Universidade de São Paulo (USP) causou maior polêmica a possível fusão do curso de Obstetrícia com Enfermagem. Para professores, alunos e formados, a decisão significaria o fim da profissão responsável pelo acompanhamento de partos de baixo risco e diminuição das cesarianas no País, já que o curso é o único do Brasil.

O relatório feito por um grupo de trabalho chefiado pelo ex-reitor e criador da USP Leste, Adolpho Melfi, reconhece a “função social” do curso, mas sugere que as 60 vagas atuais migrem para a Escola de Enfermagem da universidade, que fica em Pinheiros. A “fusão” dos cursos resolveria o problema da falta de reconhecimento do profissional por um órgão que o certifique.
A questão foi reforçada por comunicado da direção da unidade que admite buscar ajustes para “adequar algumas disciplinas de modo a contemplar o estudo do ser humano com conteúdos gerais, mais próximos aos cursos de enfermagem tradicionais, o que poderá levar à mudança na sua denominação”.
Fundado em 2005, o curso focado no cuidado da gestante e auxílio em partos naturais esperava respaldo do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) para certificar os profissionais, mas não conseguiu. Apenas alguns formandos, após batalhas judiciais, conseguiram um documento da regional de São Paulo que dá uma certificação provisória. “Não é picuinha. Simplesmente este profissional não existe para a gente, nós representamos os enfermeiros. Por que não pedem para o CRM (Conselho Regional de Medicina) uma certificação?”, diz o assessor legislativo do Cofen, Luiz Gustavo Muglia.
Para ele, a Obstetrícia deveria permanecer como especialização possível para profissionais da área de saúde, inclusive enfermeiros.
Protesto em frente à reitoria
Indignados, estudantes e docentes farão amanhã em frente à reitoria da USP, no Butantã, um ato para mostrar a importância social da profissão e esperam conseguir apoio dos colegas de outros cursos. Entre os dados mais importantes estão a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que apenas 15% dos partos realmente precisam de cesáreas, enquanto no Brasil a média é de 45% no sistema público de saúde e chega a 90% na rede particular. “O profissional que acompanha o parto de baixo risco certamente influenciaria neste porcentual”, diz a aluna do 3º ano Nathalia Rudel.
“É mais um profissional para compor a equipe que trabalha pela saúde da gestante”, defende Ana Cristina Duarte. Formada pela primeira turma do curso, ela é uma das que conseguiram por liminar a certificação e trabalha como obstetriz tanto em partos em casa quanto em hospitais. “Só trabalho sozinha em partos baixo risco, no restante formamos uma equipe de profissionais que tem feito sucesso na maior parte do mundo desenvolvido”, diz.

http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/fusao+do+curso+de+obstetricia+da+usp+significa+fim+da+profissao/n1238183622688.html

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